Por que 1º de maio é considerado o Dia do Trabalho?
Por que 1º de
maio é considerado o Dia do Trabalho?
Data tem origem em uma greve
histórica, realizada em 1º de maio de 1886, nos Estados Unidos.
Por Tiago Cordeiro
access_time30 abr 2019, 15h01
Não é apenas no Brasil que o dia
1º de maio é feriado. Nesta data, os trabalhadores descansam (e também realizam
manifestações) na América do Sul e no México, em quase toda a Europa Ocidental,
na Rússia, na Índia, na China e na maior parte dos países da África. A data foi
escolhida em homenagem ao esforço dos trabalhadores dos Estados Unidos, que,
num sábado, 1º de maio de 1886, foram às ruas das maiores cidades do país para
pedir a redução da carga horária máxima de trabalho por dia.
A luta dos manifestantes foi
bem-sucedida: na virada do século 20, boa parte dos trabalhadores do país já
seguia o ritmo de 8 horas diárias – antes, era comum os americanos ficarem nos
empregos nada menos do que 100 horas por semana, o equivalente a
aproximadamente 16 horas para cada um dos seis dias de ocupação.
A luta dos americanos foi
reconhecida rapidamente na Europa, onde já em 1890 o Primeiro de Maio começou a
ser marcado por cerimônias e manifestações. Desde então, a data foi se
difundindo por todo o mundo. Hoje é celebrada em mais de 80 países – no Brasil,
o Dia do Trabalhador é celebrado desde 1925. Curiosamente, nos próprios Estados
Unidos, a data é celebrada em uma ocasião diferente, a primeira segunda-feira
de setembro.
A origem das manifestações de 1º de maio
“Eight-hour day with no cut in
pay” (“diária de oito horas sem redução no pagamento”) era o slogan repetido
por mais de 300 mil manifestantes que foram às ruas em Nova York, Chicago,
Detroit e Milwaukee, entre outras cidades. As passeatas marcaram o início de
uma greve geral, que tinha essa única reivindicação: a redução da carga
horária.
No dia 4 de maio, uma
terça-feira, cerca de 2.500 manifestantes se reuniram em assembleia em Chicago,
na praça Haymarket. O evento começou por volta das 8h30, debaixo de chuva fina.
Os participantes pretendiam debater os rumos do movimento depois que, na
véspera, policiais haviam atingido mortalmente dois manifestantes que faziam
piquete na porta de uma fábrica. Temendo confrontos, o prefeito da cidade,
Carter Harrison Sr., compareceu para ouvir os discursos. Ao perceber que a
reunião seguia para terminar sem incidentes, foi embora.
Por volta das 10h30, quando a
maior parte das pessoas já havia deixado o local, 176 policiais cercaram os
cerca de 200 manifestantes que ainda estavam na praça. Pediram que eles se
retirassem, e na sequência começaram a atirar. No meio da confusão, uma bomba
foi lançada na direção dos agentes da lei. Na confusão que se seguiu, morreram
quatro trabalhadores, mas também sete policiais, e mais de 130 pessoas ficaram
feridas.
Nos dias que se seguiram ao
incidente, dezenas de sindicados, de diferentes cidades do país, foram ocupados
pela polícia. Enquanto a lei marcial era declarada em todo o território
americano, em Chicago, mais de 100 sindicalistas foram presos, acusados de
incitar a violência policial. O Estado processou oito deles. Levados a
julgamento, sete foram condenados à pena de morte. Um deles seria encontrado
morto na cela. Dois tiveram a punição transformada em pena de prisão perpétua.
O principal acusado de haver jogado a bomba, o manifestante Rudolph Schnaubelt,
fugiu para a Europa antes de ser julgado.
Em 11 de novembro de 1887,
vestindo túnicas brancas e com o rosto coberto por capuzes também brancos,
quatro dos acusados foram enforcados – eram os sindicalistas Adolph Fischer,
George Engel, Albert Parsons e August Spies. Em 1893, o governador John Altgeld
acabaria por conceder o perdão aos sobreviventes. Alegou que o julgamento tinha
sido muito mal conduzido – uma opinião com a qual concordavam os escritores
Oscar Wilde e George Bernard Shaw, que criticaram abertamente a condenação.
Influência definitiva
O ataque da polícia e o
julgamento dos sindicalistas colocaram a pauta dos trabalhadores em evidência.
Depois de várias décadas aceitando condições muitas vezes insalubres e altas
cargas horárias, os americanos passaram a fazer pressão por mudanças. No
restante do mundo, o movimento trabalhista internacional passou a tratar os
quatro condenados à morte como vítimas da brutalidade policial e de um sistema
judiciário desfavorável.
Não foi por acaso que o incidente
aconteceu em Chicago. A principal cidade de Illinois era uma das mais
industrializadas do país, e por isso mesmo atraía imigrantes em massa. O
resultado foi um crescimento incontrolável: em 1850, 30 mil pessoas viviam em
Chicago. Em 1860, eram 112 mil. Em 1870, 298 mil. Em 1880, mais de 500 mil
habitantes.
Os imigrantes, especialmente os
de origem alemã, traziam consigo ideais anarquistas e socialistas de liberdade
e justiça social. Antes mesmo das manifestações de 1886, eles vinham realizando
uma série de greves e protestos por melhores condições de trabalho. Entre os
principais líderes das manifestações naquele período estava Albert Parsons, que
seria um dos condenados à forca pelo incidente da praça Haymarket.
Nascido em Montgomery, Alabama,
Parsons era adolescente quando lutou na Guerra Civil Americana. Mudou-se para o
Texas, onde começou a atuar em defesa dos direitos dos escravos libertos – ele
se casaria com Lucy Parsons, uma ativista filha de mexicanos, possivelmente
ex-escrava, conhecida pela qualidade de sua oratória. Juntos, os dois se
mudariam para Chicago em 1873, quando começaram a trabalhar como jornalistas e
a se envolver com os movimentos trabalhistas. Condenado, Albert Parsons morreu
aos 39 anos. Lucy viveria 89 anos e faleceria, em Chicago, apenas em 1942.
Estátuas polêmicas na praça
Haymarket
Desde o século 19, a praça
Haymarket recebeu diferentes memoriais celebrando a ação da polícia. O primeiro
monumento foi inaugurado em 1889 e destruído por manifestantes em 4 de maio de
1927. Reconstruída e reinstalada em 1956, a estátua foi novamente vandalizada
(desta vez, pichada de preto) em 4 de maio de 1968, durante um protesto contra
a Guerra do Vietnã. No ano seguinte, manifestantes detonaram uma bomba que
destruiu a estátua.
Reconstruída mais uma vez e
reinaugurada em 4 de maio de 1970, a imagem foi mais uma vez derrubada em
outubro do mesmo ano. Em 1972, a estátua foi removida e reinstalada no
escritório central da polícia da cidade. Parcialmente demolida para a
construção de uma rodovia na década de 1950, a praça acabou recebendo, em 2004,
uma estátua de 4,5 m, reproduzindo a carroça onde os manifestantes subiram,
naquele 4 de maio de 1886, para falar a favor da greve e dos direitos dos
trabalhadores.
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